Papa Bento VXI - Maio/2007

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A Primazia da Bíblia


A “Palavra de Deus” certamente ultrapassa a Bíblia. Pois Deus nos fala também de outras maneiras: pela criação, pelos acontecimentos, pelas palavras e escritos de outras pessoas, etc.

O apóstolo Tiago lembra: “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do Alto e desce do Pai das luzes...” (Tg 1,17).

Portanto, não é verdade que “outros livros e reflexões não servem para nada”. A Igreja, mesmo possuindo a Bíblia, continuamente recorre aos escritos dos Santos, aos documentos dos Concílios, aos pronunciamentos do Papa e dos Bispos. Também nas ciências, nas artes, em todos os ramos do saber humano, mesmo em outras religiões, há ensinamentos importantes. Se assim é, de onde vem, então, a centralidade da Bíblia? Ela ainda se justifica?

Sim, para nós, cristãos, a primazia da Bíblia vem do fato de que o Antigo Testamento foi reconhecido pelo próprio Senhor Jesus quando afirmou:

“Não pensem que eu vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas darlhes pleno cumprimento (Mt 5,17)”. Quanto ao Novo Testamento, os evangelhos e as cartas dos Apóstolos são o testemunho dosque viram e ouviram o Senhor, cujas palavras jamais passarão (cf Mt 24,35). Por isso, mesmo reconhecendo que “os outros livros e reflexões” são úteis, continuamos reconhecendo a Bíblia como fonte primeira de nossa fé.

Uma questão importante, que é preciso entender bem, é a da Inspiração. Nós reconhecemos e proclamamos que a Bíblia é inspirada por Deus. Só a Bíblia? O que é mesmo Inspiração? Inspiração é a ação do Espírito Santo, que inspirou os autores da Bíblia. Eles foram homens e mulheres que falaram movidos pelo Espírito Santo (2Pd 1,21).

Desta forma, Paulo afirma:

Toda a Escritura é inspirada, e útil para ensinar, para corrigir... (2Tm 3,16).

Portanto, o Espírito Santo iluminou e moveu aqueles homens para que escrevessem “tudo e só aquilo que, para a nossa salvação, Ele quis que fosse escrito” (Dei Verbum, n.º 11). Por isso mesmo aqueles livros foram “canonizados”, isto é, reunidos num “cânon”: é a inspiração especial que podemos chamar de “escriturística”.

Há, porém, a inspiração profética, para falar em nome de Deus; a inspiração carismática que animava os Juízes e Reis do Antigo Testamento e anima os pastores da Igreja e os líderes da sociedade hoje; e, no dia a dia, a inspiração dos poetas, dos artistas, dos escritores, etc.

A Inspiração, portanto, como ação do Espírito Santo, é ampla, abrangente, universal, desde aquele “pairar do Espírito sobre as águas” do qual fala o início do livro do Gênesis (Gn 1,2), enquanto a inspiração “escriturística” especial é aquela que reconhecemos somente nos livros da Bíblia.

É interessante, igualmente, notar a analogia entre a Encarnação, o fato de que a Palavra de Deus se fez “carne” e habitou entre nós (Jo 1,14), e a “librificação” da mesma Palavra que, dirigida a nós tantas vezes e de tantas maneiras, a nossos pais na fé, pelos profetas (Hb 1,1), foi redigida e tornouse o Livro por excelência, que nós chamamos de “Bíblia”.

Isto, porém, não nos leva a deixar de dar o devido valor aos outros livros e reflexões que, naquilo que têm de bom e verdadeiro, são também, a seu modo, inspirados por Deus.